“Adorei as almas, as almas me valeram, as Santas Almas lá do cruzeiro…”. Adorei as almas! Frase usada para saudar os Pretos e as Pretas Velhas.
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Existem algumas histórias da origem desta saudação: “Adorei” ou “adoratio (em latim, Ad oris, para a boca)”. É um gesto reverencial de tocar com a mão direita a pessoa ou objeto sagrado e cobrir a boca com a mão esquerda. Outras contam que ela vem do verbo em francês “dorer”, que significa “deixar da cor do ouro ou dourar”. Os escravizados, no Brasil, quando escutavam essa palavra, tinham que limpar os objetos até deixá-los brilhando. Assim, associavam “À doré” como valorizar e dar valor às coisas. Então, “Adorei”é uma variação fazendo alusão ao trabalho dos Pretos Velhos que acolhem nossas dores de alma, angústias do mundo, tristezas e mágoas. Nos dão colo, “puxões de orelha” e conselhos. Nos oferecem palavras de conforto que nos dão caminho e sabedoria, trazendo um amanhecer para a noite de nossa alma. Assim, também fazendo brilhar e reluzir a luz de nosso ser.
Quem são os Pretos Velhos?
Popularmente, os Pretos Velhos são apresentados como os espíritos dos escravizados. Eles se apresentam na forma de anciãos que trazem a sua sabedoria com benzimentos por meia das ervas. Além disso, usam rosários, terços, fumam cachimbos e gostam de café. Porém, as pretas e pretos velhos vão muito além disso. Como diz o poeta Amadou Hampaté-Bâ: “Quando morre um africano idoso é como se queimasse uma biblioteca”. Não apenas nas tribos africanas, mas nas brasileiras e no mundo, os mais velhos são os guardiões das memórias. São eles que compartilham a sabedoria dos antepassados.
Por isso, os Pretos Velhos nos terreiros representam não apenas a figura do ancião, daquele que passa os conhecimentos. Também representam do avô e da avó, pois eles nos acolhem e afagam, representam a ancestralidade e raízes africanas dos terreiros. Eles não são apenas aqueles que benzem, mas eles representam a subversão a morte, não a física, mas sim de seu culto. Os ancestrais e Orixás que até nos dias atuais sofrem repressão, a força de combater o medo e a intolerância. São eles que nos contam a história de dentro do cativeiro (não a contada pelos colonizadores). Assim, apresentam um novo caminho a seguir, pois, como diz a frase: “Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la.”
Regência de Obaluaê e Omolu
Os Pretos Velhos trabalham e atuam nas forças de todos os Orixás, porém estão sob a regência de Obaluaiê e Omolú – os Orixás da cura e transmutação. Então, por isso, assim como essas divindades, o dia da semana dos Pretos Velhos é às segundas-feiras e as suas cores são o preto e o branco. Por estarem na regência de Omolu e Obaluaiê, suas mirongas ou mandingas (magias) comumente estão ligadas à cura de enfermidades da alma ou do corpo, desvinculação de sentimentos negativos, proteção contra energias negativas, conforto emocional e direcionamento.
E para não ter dúvidas…
É de grande importância salientar que estes conhecimentos são pertencentes dos povos de terreiro, e que, cause maior duvidas, é importante procurar um terreiro de confiança ou que você sinta afinidade para conhecer. Os conhecimentos passados aqui não possuem perigo, pois como diz no rezo do Preto Velho “Quem tem fé tem tudo e quem não tem fé não tem nada…”. É muito falado que acender vela em casa atrai kiumbas (espíritos zombeteiros ou errantes).
Porém, onde existe luz não existe escuridão e tudo está na intenção colocada. Se é feito com fé e amor, como poderia atrair algo negativo? Também é muito importante respeitar a diferença de crença e de culto de cada um e que não seja necessário nenhum esbanjamento ou mil e uma facetas. É claro que, cada caso é um caso, e muitas vezes precisamos de materiais mais específicos, mas é importante não nos esqueçamos nunca que o divino e o extraordinário moram no simples e na fé. Dito isso, pegue seu papel e sua caneta e vamos lá!
Magia para se conectar com os Pretos Velhos
Você vai precisar de uma vela branca ou bicolor branca e preta e uma xícara de café. Acenda a vela em seu altar ou local onde você costuma fazer orações e posicione a xícara de café ao lado dela. Em seguida, faça a saudação “Adorei as almas!”, feche os olhos e eleve o pensamento a Deus, aos Orixás. Peça a licença e a benção dos Pretos e Pretas velhas e faça seus pedidos. Converse com eles utilizando seu coração e seus sentimentos mais sinceros. Quando a vela se apagar, descarte no lixo e o café, na terra (caso não puder, no ralo mesmo).
Importante!
Separe uma xícara apenas para fazer a sua entrega aos Pretos Velhos. Por isso, ela vai se tornar um objeto sacralizado, sendo apenas em seus rituais, tornando-se um instrumento para a sua conexão, entrega e uma maneira de separar o sagrado do profano. Ou seja, de uma xícara que é utilizada no dia a dia para uma utilizada para um ofício sagrado.
Banho de ervas
Uma outra ferramenta comumente passada pelos Pretos velhos e outras entidades são os banhos de ervas, que tem a funcionalidade de trazer conexão, limpeza, proteção, calmaria, relaxamento, abertura de caminhos e etc. Cada banho e cada erva tem a sua própria ciência e função, mas os mais comuns são o de rosas brancas, para trazer calmaria e boas energias, e o de alecrim, arruda e manjericão ou guiné, que é utilizado para limpeza, proteção e renovação das energias.
É importante lembrar que nenhuma magia ou terreiro tem como objetivo suprir medicamentos ou médicos, caso tenha sintomas, sejam físicos ou emocionais, é de grande importância buscar um médico.
Que os Pretos Velhos então possam trazer axé, bênçãos, paz e calmaria que buscam!
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