“Eu quero doce, eu quero bala, eu quero mel para passar na sua cara…”. Um antigo itã (conto ou história africana) diz que, certo dia, Iku, a morte, chegou em um vilarejo e queria levar antes da hora as pessoas que viviam lá. Ela, então, colocou armadilhas na floresta e levou assim as mulheres, jovens e guerreiros, mergulhando o vilarejo em tristeza. Então, os moradores foram consultar Ifá, o oráculo, que disse que apenas os gêmeos Ibejis conseguiriam deter Iku. Assim, os adultos pediram ajuda a eles que, por sua vez, responderam que aceitariam se em troca eles recebessem uma oferenda de doces à vontade. Nasce assim, a tradição dos Erês.
COMO SERÁ O SEU DIA HOJE? DESCUBRA TUDO NO HORÓSCOPO DIÁRIO! LÁ TEM TODAS AS TENDÊNCIAS ASTRAIS PARA O SEU SIGNO
O plano dos Ibejis
Eles, então, armaram um plano; pegaram o seu tambor mágico e saíram tocando em direção à floresta. Iku avista o garoto na floresta e tenta levá-lo para o seu reino – mas, atraída e encantada pelo som do tambor, ela começa a dançar sem parar, noite e dia, não percebendo que, na realidade, eram dois garotos e que um escondia no mato revezando com o irmão o toque do seu mágico tambor. Com isso, Iku, já no seu limite, faz um acordo com a criança para que ela parasse: em troca, devolveria todos que ela levou injustamente e iria embora de vez. Após selar o acordo com a morte, Ibeji revela o seu irmão escondido mostrando, assim, que eles eram dois o tempo todo. A morte fica possessa de raiva e jura vingança.
Quem são os Erês?
Apesar de ser uma pergunta aparentemente fácil, os Erês são uma temática muito mais complexa do que se pode imaginar – a palavra “Erê” vem do iorubá, que significa “brincar”. Contudo, existe o sincretismo com São Cosme e Damião que, assim como os irmãos Ibeji, são gêmeos e estão ligados à proteção das crianças. Mas, é importante lembrar que o dia de santos católicos foi inicialmente comemorado em 27 de Setembro. Após o calendário romano sofrer reforma, em 1969, a igreja alterou a comemoração para o dia 26. Porém, algumas religiões, como a Umbanda, ainda comemoram no dia 27 de Setembro, tendo assim duas datas de celebração.
Erês, os intermediários
Em algumas tradições, acredita-se que os Erês são os intermediários entre as pessoas e o Orixá, onde, através deles, as divindades expressam a sua vontade. Em outros lugares, acredita que os Erês já tiveram uma vivência terrena e um desencarne prematuro cristalizando, assim, seu espírito na forma de uma criança. Já em outras, crê-se que eles são encantados, espíritos que nunca encarnaram e estão em contato com os humanos para se preparem para a sua primeira encarnação na terra.
Doces, leveza e alegria
Apesar das diferenças cosmológicas e teológicas, o fato é que em todos os terreiros, seja de Umbanda, Candomblé ou qualquer outra religião de matriz africana, os Erês se apresentam como espíritos de crianças, levando leveza, alegria e pureza. Nos ajuda a recordarmos da infância, pois eles gostam de guloseimas, refrigerantes, brinquedos de criança e adoram fazer traquinagens. É muito comum pedir aos Erês ajuda aos filhos e resolução de problemas, mas nunca pedir o mal, pois eles não atendem esses pedidos.
Encontro com a nossa criança
Já reparou que uma criança vive, em uma brincadeira, cada minuto e segundo intensamente? Chora, gargalha, sorri… ela está totalmente presente, entregue e, muitas vezes, transforma a brincadeira em coisa séria, pois ali não existem as dores do mundo nem preocupações com as responsabilidades – apenas a alegria do instante. Então, que neste dia 27 de Setembro, possamos nos permitir sermos crianças novamente e entregarmo-nos aos momentos e as alegrias, saudemos o encontro da nossa criança interior que não tem medo de desbravar o desconhecido e nem do escuro da noite da nossa alma. Segure na mão dela e permita-se dar aquele sorriso tranquilo e sereno que talvez tenha ficado na infância. Assim, que Ibeji, os Erês e Cosme e Damião nos traga o axé e a alegria, nos ajudando a nos encontramos, em meio a tanto caos, boletos, responsabilidades e fardos, o amor a presença e a pureza da nossa alma.
